A Nova Febre das Bebês Reborn: Até Onde as Pessoas Podem Ir?

As bonecas hiper-realistas conhecidas como bebês reborn deixaram de ser apenas brinquedos ou itens de coleção para se tornarem objeto de forte apego emocional. No Brasil, o fenômeno se intensificou com vídeos nas redes sociais, onde pessoas tratam essas bonecas como filhos de verdade — com passeios, rotinas de cuidados e até festas.

Embora possam ter uso terapêutico, especialmente em casos de luto ou solidão, o envolvimento exagerado tem levantado alertas entre especialistas. O mercado dessas bonecas movimenta milhares de reais, e alguns casos mostram pessoas que chegam a evitar relações humanas em nome do vínculo com seus reborns.

O artigo explora os benefícios, os riscos, o impacto psicológico e social dessa nova onda e faz uma reflexão: até onde vai o carinho e onde começa a fuga da realidade?

Um brinquedo, uma terapia ou uma obsessão?

Elas têm pele realista, cheiros característicos de bebê, peso semelhante ao de um recém-nascido, e vêm com enxoval completo. As bebês reborn — bonecas hiper-realistas que simulam bebês de verdade — se tornaram uma verdadeira febre nos últimos anos. Mas o fenômeno que antes parecia restrito a colecionadores ou amantes do artesanato agora está tomando proporções bem maiores.

O que leva uma pessoa a investir milhares de reais, tempo e até mesmo sentimentos reais em uma boneca? Onde está o limite entre afeto simbólico e uma fuga da realidade? Neste artigo, vamos explorar todos os aspectos dessa nova tendência e os impactos que ela pode causar na vida de quem adota uma reborn.


O que são Bebês Reborn?

As reborn são bonecas produzidas artesanalmente com o objetivo de reproduzir ao máximo a aparência e sensação de um bebê real. Artistas reborners utilizam técnicas minuciosas com camadas de tinta, implantes de cabelo fio a fio, e tecidos especiais para criar uma experiência quase idêntica ao contato com um recém-nascido humano.

Importadas dos Estados Unidos e da Europa no início dos anos 2000, elas chegaram ao Brasil como artigo de luxo, mas nos últimos anos se popularizaram em feiras, redes sociais e marketplaces.


O Boom no Brasil: uma nova onda emocional

O interesse por bebês reborn no Brasil explodiu com o aumento da exposição nas redes sociais. Plataformas como TikTok, Instagram e YouTube estão repletas de vídeos de pessoas que “cuidam” dessas bonecas como se fossem filhos reais. Há vídeos de passeios, trocas de fraldas, visitas ao pediatra, e até mesmo festas de aniversário reborn.

E mais impressionante ainda: há relatos de pessoas que investem mais de R$ 10 mil em uma única boneca reborn. Isso inclui kits personalizados, roupas exclusivas, carrinhos importados, acessórios médicos de mentira, entre outros.


Quando a Realidade se Confunde com a Ficção

O que mais chama atenção na febre reborn é o envolvimento emocional de muitas “mães” dessas bonecas. Algumas tratam os bonecos como substitutos de filhos perdidos ou não gerados, outras utilizam como forma de lidar com traumas, infertilidade, ou mesmo a solidão.

Apesar de existirem benefícios psicológicos em alguns casos (como no uso terapêutico controlado por profissionais), o fenômeno tem levantado preocupações entre especialistas em saúde mental, especialmente quando o envolvimento se torna tão profundo que afeta a realidade social e emocional da pessoa.


Benefícios terapêuticos (quando bem orientados)

Psicólogos e terapeutas ocupacionais utilizam bebês reborn como ferramentas auxiliares para lidar com:

  • Luto materno: mulheres que perderam filhos recém-nascidos;
  • Transtornos cognitivos em idosos: como Alzheimer, em que o cuidado com a boneca pode gerar estímulos positivos;
  • Ansiedade e depressão leve: promovendo a sensação de cuidado e rotina.

No entanto, os especialistas alertam: o uso deve ser supervisionado e jamais substituto de tratamento real.


Casos que chamaram a atenção

  • Uma mulher em Minas Gerais foi destaque em rede nacional por manter uma “creche reborn” com 16 bonecas, com rotina completa e vídeos diários. Ela afirma que “não sente falta de filhos” e que tem “vínculo real” com suas bonecas.
  • Em São Paulo, uma jovem chegou a tentar registrar a certidão de nascimento de uma reborn como se fosse uma criança real.
  • No Rio de Janeiro, há relatos de mulheres que levam as bonecas ao shopping, aplicam mamadeiras com leite e reagem como se tivessem filhos humanos.

O mercado que movimenta milhões

As reborn movimentam um mercado bilionário global. No Brasil, estima-se que já existam mais de 400 artistas reborners e dezenas de lojas especializadas.

Valores médios:

  • Bonecas simples: R$ 600 a R$ 1.200
  • Reborns personalizadas: de R$ 2.000 a R$ 8.000
  • Acessórios realistas: até R$ 2.500 por kit

Além disso, surgem serviços como creches, ensaios fotográficos, babás e eventos personalizados para bonecas. Isso mostra que o envolvimento não é apenas emocional, mas também financeiro.


Limites éticos e sociais

Apesar da empatia que alguns casos despertam, muitos especialistas alertam para riscos:

  • Isolamento social: algumas pessoas passam a evitar contatos humanos e substituir relações reais pelas fictícias.
  • Fuga da realidade: quando a fantasia ultrapassa os limites da recreação ou terapia, a saúde mental pode ser afetada negativamente.
  • Exposição infantil: crianças criadas em ambientes onde o real e o artificial se confundem podem desenvolver percepções distorcidas de maternidade e empatia.

A estética da perfeição e a indústria da ilusão

Outro ponto polêmico é o padrão de perfeição que essas bonecas representam. Quase todas seguem o molde de bebês brancos, olhos claros e traços europeus. Isso levanta questionamentos sobre padrões estéticos, invisibilização de raças e a normalização da idealização do que é “bonito” ou “digno de amor”.


Redes sociais: propulsoras e armadilhas

A internet amplificou esse fenômeno, e embora seja um espaço de apoio e comunidade, também pode reforçar a alienação. Grupos com regras rígidas, “mães reborn” que se ofendem por comentários, e até mesmo “brigas” por disputas de estilo e comportamento.

Plataformas como o TikTok têm filtros e efeitos que tornam as cenas com reborn ainda mais críveis, enganando até mesmo internautas desavisados.


Reflexão final: até onde é saudável?

As bebês reborn tocam em um ponto sensível da sociedade moderna: o desejo de afeto, o medo da solidão e a idealização do que é “ser mãe” ou “ter um bebê perfeito”. Elas podem sim ser terapêuticas e simbólicas, mas também podem representar uma válvula de escape preocupante se não houver equilíbrio.

A pergunta que fica é: até onde vai o carinho… e onde começa o risco?

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